terça-feira, 19 de março de 2013

Travessia Alto da Boa Vista - Represa dos Ciganos

Realizada em 21 de agosto de 2010



Com uma imensa vontade de dar um mergulho nessa piscina natural, começamos nossa caminhada em direção ao Bom Retiro. O bucólico lago fica em uma área conhecida como Jardim da Cascatinha bem próximo ao portão de entrada do Parque Nacional da Tijuca (PNT). Infelizmente o banho é proibido, pois dizem que a água é de consumo humano (será mesmo?). 


Com 35m de queda d'água, a Cascatinha Taunay é a mais alta e a mais conhecida cascata do PNT. Suas águas são oriundas do Rio Tijuca, antes conhecido como Maracanã-Cachoeira. Seu nome rende homenagem a Nicolas Antoine Taunay, pintor francês do século XIX, então proprietário das terras onde a cascata se localiza e que a imortalizou em seus quadros.


Perto do Centro de Visitantes nos deparamos com um casal de arara-azul e um lobo-guará feitos em resina policromada pela artista plástica Dorée Camargo e doados ao PNT por conta dos seus 49 anos de existência. Apesar de muito bem feitos com uma riqueza de detalhes impressionante, ambas espécies não refletem a verdadeira fauna (extinta) do PNT.


Dessa vez quem debutou nas nossas aventuras foi o Gustavo "Tatu" Rezende a convite do Gustavo "Fininho". Tem que ter cojones para aceitar essas nossas convocações, pois nem sempre por onde passamos existe uma trilha bem definida. Até que o Mestre dos Magos se saiu bem, não foi daqueles que faz perguntas do tipo: "Falta muito?" ou "A gente tá na trilha certa?".


Do Largo do Bom Retiro pegamos o Caminho do Bico do Papagaio sempre atento à direita no seu início; a trilha para o Vale dos Ciganos é a mesma que vai para a Serrilha do Papagaio. Chegando no colo divisor de águas, onde tem um grande tronco caído, em vez de subir à esquerda, seguiremos reto; neste ponto estamos mudando de bacia hidrográfica entrando na área de captação do Rio dos Ciganos.


Rapidamente a trilha começa a descer suavemente e virar para a esquerda (oeste) e em menos de cinco minutos encontraremos uma bifurcação. Para o Vale dos Ciganos pegamos uma abrupta descida á direita (norte) em uma trilha ligeiramente definida; o caminho reto segue em direção ao Alto da Botija (Pedra Escragnolle).


É preciso um bom senso de orientação pois a trilha não possui uma frequência alta, são poucos os que costumam caminhar por essa grande área do PNT conhecida como Floresta de Santa Inês. Depois de aproximadamente 25 minutos cruzamos por um pequeno curso d'agua que talvez seja o Rio Celso Campos, afluente do Rio das Pacas. Me parece ser um rio efêmero, ou seja, aqueles que se formam somente por ocasião das chuvas.


Depois de uns 15 minutos descendo a partir do Rio Celso Campos encontraremos uma bifucação onde repousa um tronco caído, onde seguiremos pelo caminho da esquerda. Pegando a vereda da direita iremos contornar o Pico da Tijuca em direção à Garganta Maria Devel; evite pegar esse caminho sem o conhecimento de um guia experiente pois a trilha se encontra em estado precário.


Em poucos minutos encontraremos um impressionante e inusitado acidente geográfico (foto acima). Trata-se de uma área alagada em um grande terreno plano bem no meio da floresta que daqui em diante vamos carinhosamente batizar de Charco dos Ciganos.



Vendo o mapa observamos que estamos no Morro do Alto dos Ciganos onde as curvas de nível estão bem espaçadas evidenciando o platô aqui existente. Fizemos um rápido reconhecimento pois há uma trilha que parece circundar o charco seguindo na direção oeste. 


Para seguir rumo à Represa dos Ciganos o caminho fica bastante confuso e na primeira tentativa nos deparamos com um bambuzal intransponível. Resolvemos voltar e tentar encontrar marcações nas árvores próximas ao charco que pudessem nos auxiliar. Por fim seguimos por uma suposta trilha que se inicia na borda sul do charco, o que não significa ser o caminho correto.


Andamos sempre tendo à nossa direita um vale que, à medida que avançamos, se torna cada vez mais pronunciado. Ficamos caminhando sempre no rumo norte tentando se manter na mesma curva de nível ou, quando preciso, descer suavemente. Depois de um pouco mais de 1 hora, desde o Charco dos Ciganos, achamos por bem descer em direção ao interior do vale e em poucos minutos encontramos um pequeno curso d'água.


Descemos pelo leito do rio alguns poucos minutos e depois vimos no mapa que o mesmo é um afluente do Rio dos Ciganos; especulamos que este seja o Riacho da Colina ou então um afluente dele. A gente sabia que não estávamos perdidos pois mais à jusante vamos encontrar uma grande confluência de vários rios que descem em direção à Represa dos Ciganos.


Repito, mais uma vez, esta travessia é muito longa e a orientação complicada para quem não está habituado. Não se aventure se não conhecer a trilha, tente realizar este roteiro com guias especializados. Existem alguns grupos de caminhada que de vez em quando realizam esta travessia, posso citar: CEB (Centro Excursionista Brasileiro); AZO (Amigos da Zona Oeste); Trilhas do Rio de Janeiro (Marcos Rabello Paz).


Já passavam das 15:30 e ainda não havíamos dado aquele pit stop pra comer, nossos estômagos já estavam reclamando. Como saco vazio não fica em pé, resolvemos lanchar ali mesmo nas rochas encaixadas no curso do rio.


Forramos o estômago com uns sanduíches naturais, damascos, granola, iogurte, caldo de cana, etc ; lanchinho "classe A" de trilha. Voltamos a descer acompanhando a drenagem e rapidamente chegamos a um ponto chave conhecido com Lajeado (figura abaixo). Guarde esta referência, é um ponto chave em termos de localização por esses lados da Floresta de Santa Inês.


Aproveitamos para dar uma relaxada geral às margens do Rio dos Ciganos, daqui em diante a trilha é bem marcada, sem muitas dúvidas. Aqui no Lajeado, tenha muito cuidado para não escorregar, as pedras úmidas podem ser traiçoeiras e, dependendo de onde você esteja, um tombo pode ser fatal.


Analisando o mapa, podemos considerar este ponto como sendo a metade da caminhada, tendo como destino final a Estrada Grajaú Jacarepaguá, próximo ao Hospital Cardoso Fontes. Na foto abaixo temos uma espécie de cipó que também identifica a localização do Lajeado, ao qual vamos chamar de Fiapo do Barbávore em alusão ao personagem do filme O Senhor dos Anéis.
  

Logo abaixo, na mesma margem (lado esquerdo), existe uma outra trilha que encontra o Lajeado pelo oeste. Da primeira vez fiz esta travessia com o AZO me lembro de ter chegado aqui por este caminho, só que o início da trilha havia sido outro, beirava o paredão do Morro da Coruja.



O semblante de nosso amigo Gustavo "Tatu" era só alegria, afinal daqui em diante não iríamos mais passar perrengue pra continuar caminhando. A continuação da trilha é bem aberta como pode ser visto na foto abaixo.