domingo, 28 de junho de 2015

Morro do Castelo do Frade (Macaé - RJ)

Realizada em 27 de junho de 2015

Esta caminhada foi a primeira realizada na região serrana do município de Macaé, mais precisamente no distrito do Frade. Para chegar até lá é preciso pegar o ônibus S-13 a partir do Terminal Central de Macaé. A viagem é longa levando em média 1 hora até o início da caminhada mas o preço da passagem (R$ 1,00) e o visual do Pico do Frade ao longo do percurso compensam.


O ônibus passará por vários distritos (Córrego do Ouro, Trapiche, Óleo, Glicério) e o local para descer é um pouco antes de entrar no Frade, onde tem uma ponte sob o Rio São Pedro, logo após a confluência deste com o Rio Macabu. Seguiremos pela estradinha de terra na direção da Usina de Macabu (sentido norte), tendo o rio à nossa esquerda.



Em poucos minutos passaremos por outra ponte e o Rio Macabu ficará à nossa direita. Depois de aproximadamente 1 km de caminhada no plano encontraremos algumas casas e logo após já será possível avistar o castelo d'água da Usina de Macabu no alto à esquerda (foto abaixo).


Uns 50 metros antes de chegarmos à Usina propriamente dita, vamos sair da estrada de terra e pegar o caminho à esquerda. Vamos passar por trás de um campo de futebol e subir à direita, sendo necessário passar, logo em seguida, por uma porteira azul de ferro .


Na verdade, boa parte da caminhada que vamos realizar utiliza uma pista de mountain bike bastante famosa na região serrana de Macaé. Vários campeonatos de downhill já foram realizados neste percurso. A pista liga o "Castelo" ao Clube da Usina no Frade, cortando as trilhas dentro da mata e os caminhos de manutenção das instalações da Usina, com obstáculos naturais e pontes provisórias, montadas pelos organizadores dos campeonatos.

 

O Castelo do Frade, nada mais é do que uma estrutura de concreto para captar recursos hídricos oriundo da Represa da Tapera para alimentar a usina hidrelétrica localizada próximo à entrada do Frade. A Represa da Tapera também é conhecida como Represa de Sodrelândia e fica no outro lado da Serra dos Crubixais.


No inicio do século XX, Macaé ainda não possuia luz elétrica, enquanto seu município vizinho, Campos dos Goytacazes, já contava com esse recurso desde 1883, tendo sido a primeira cidade do Brasil a utilizar este tipo de iluminação.


Até 1917, as casas e ruas onde trafegavam os bondes puxados por burros eram iluminadas por lampiões, alimentados pelo óleo de mamona, também conhecido como azeite de baga. Ao anoitecer, os funcionários da Prefeitura acendiam os lampiões e os apagavam às 02:00hs, com exceção aos sábados e domingos que ficavam acesos até a meia-noite.

                                           

Em agosto de 1917, a Prefeitura de Macaé instalou um moderno sistema de iluminação da cidade. Na atual Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid, foi construida uma casa para abrigar o motor a óleo, para iluminar ruas e residencias.


A exemplo dos lampiões, o motor da casa de força era ligado às 18h00 e desligado às 02h00hs, por medida de economia, com exceção aos sábados e domingos, que era desligado à meia-noite. Era comum as pessoas que estavam na rua, voltarem apressadas para casa, quando observavam que faltavam poucos minutos para a luz apagar. A luz continuava de má qualidade; servia apenas para iluminação. Contudo foi um grande avanço considerando-se o sistema anterior.


Com o potencial hidroelétrico descoberto na serra, investidores começaram a construir a primeira usina em Glicério em 1926, sendo colocada em operação na década de 40. A atual Usina Velha de Glicério passou a iluminar a cidade com luz alternada, de melhor qualidade. 


                                    

Depois de um breve descanso em um descampado onde é possível ver à esquerda o castelo d'água com sua grande rampa onde os dutos estão assentados, continuamos a subida por um caminho bem aberto. A orientação aos poucos passa de N para NW e o caminho vai se estreitando até virar uma trilha de fato.  
  

Paramos em um mirante pra tirar uma selfie da galera de onde é possível ver a rodovia RJ-162 serpenteando a encosta da Serra do Frade de Macaé. Deste ponto, além do imponente Pico do Frade também é possível avistar em dias limpos a Pedra da Freira e parte da Serra da Peroba, todos à leste.


Em 1931, após o início das obras da Usina de Glicério, foram iniciados estudos preliminares para a instalação de uma outra usina hidrelétrica na Bacia do Rio São Pedro. O objetivo era integrar esta nova hidrelétrica à usina de Glicério para melhorar o serviço de geração e distribuição de energia elétrica para o município de Macaé.


Na época, o local escolhido para a implantação do projeto abrangeu dois trechos de duas bacias hidrográficas: o primeiro entre Tapera e Sodrelândia (Trajano de Morais) a 630 metros de altitude e o outro ponto no Frade, a uma altitude 300 metros. Entre os vales das duas bacias estendem-se os contrafortes correspondentes à Serra de Crubixais, obstáculo orográfico que teve que ser vencido por um túnel de 4.907m de comprimento que levaria àgua até as turbinas da usina. Segundo consta, diversos trabalhadores morreram durante as explosões para a abertura do túnel



Depois de atravessar o túnel e de movimentar os geradores, se juntaria às águas do rio São Pedro – engrossando seu caudal – e iria mover a usina de Glicério, com 110m de queda (desnível). A construção foi iniciada em 21 de setembro de 1939 pela Comissão Central de Macabu, composta de engenheiros e técnicos brasileiros e japoneses.



Naquela época, ainda não havia no Brasil conhecimento tecnológico para construções de hidrelétricas do tipo de Macabu. As grandes usinas existentes foram projetadas e construídas por técnicos estrangeiros. Não havia fabricação no Brasil de equipamentos eletromecânicos e, assim, foi aberta uma concorrência internacional para  fornecimento desses insumos com o objetivo de iniciar a primeira etapa das obras, ganhando a japonesa Hitachi.


Com o início da Guerra o projeto foi interrompido pela primeira vez em 1941, quando os japoneses foram ‘expulsos’ do país. 

Um ano depois as obras recomeçaram e novamente paralisaram em 1947, dessa vez por falta re recursos. Retomadas no ano seguinte, as obras culminaram com a entrada em operações de duas turbinas no dia 11 de janeiro de 1950.


No início da década de 40 com a inauguração da hidrelétrica de Glicério, Macaé passou a ser iluminada com circuito de corrente alternada, de melhor qualidade. Esta situação perdurou até a conclusão das obras da Usina Macabu, que melhorou consideravelmente o fornecimento de energia elétrica na região.


Todavia, as interrupções eram rotineiras, de dia e a noite. O cinema Taboada muitas vezes devolvia o dinheiro aos frequentadores, por que não exibia o filme, por falta de energia, pois logo que a luz apagava a central elétrica mandava avisar que a luz só voltaria no dia seguinte.

         
Outras vezes, o cinema, cheio de espectadores, ficava no escuro por uma ou duas horas esperando a luz voltar para dar sequência a sessão. A algazarra era grande, mas tudo sob absoluta ordem. Era comum ouvirmos os poetas anônimos, na escuridão, declararem seus versos, muitos criticando os serviços de luz e água, um dos quais assim dizia; Macaé, Terra que seduz, de dia falta água, de noite falta luz.


Desta maneira, a história de Macaé também é marcada por sua importante contribuição na matriz energética brasileira a partir de 1950. Foi no início da década de 50 que Macaé ganhou status de geradora de energia com a entrada em operação das usinas hidroelétricas de Glicério e Macabu, com sua história marcada por dificuldades e tragédias.


Em 4 de fevereiro de 1961, houve um acidente devido às fortes chuvas que carregaram material sólido para o canal de fuga da usina, entulhando-a até a borda, paralisando as atividades.


Houve também o rompimento do túnel que causou um início de desmoronamento da encosta sobre a casa de máquinas de Macabu. O laudo conclui como a causa principal do estouro do túnel a deficiência de ferro encontrada na seção fraturada, mostrando nitidamente que a execução desse trecho não obedeceu ao que constava no projeto.


No trecho onde houve o acidente, havia exatamente a ferragem projetada para rocha compacta quando, na realidade, face às características geológicas naquele segmento do túnel, exigia-se que fosse colocada ferragem projetada para rocha branda que, por ser mais permeável e menos resistente a pressão (cobertura insuficiente do túnel), exigia que o concreto teria que ser amarrado com uma porcentagem de ferro muito maior do que encontrada no ponto em que ocorreu a ruptura (RESUMO HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO DA USINA MACABÚ).


Na madrugada em que ocorreu o acidente com o túnel, foram chamados engenheiros e responsáveis pela obra à usina. Constataram que da montanha desciam toneladas de matacões de pedras que formavam uma barragem nas tubulações o que, na verdade, salvou a usina impedindo que fosse totalmente destruída.


Iniciou-se o trabalho mais dramático que todos tinham visto. Todos os empregados irmanaram-se durante 53 dias e 53 noites incansavelmente, até colocarem a usina Macabu novamente em funcionamento, o que só ocorreu em 28 de março de 1961. Durante a paralisação da usina de Macabu, todo o centro norte fluminense ficou praticamente às escuras. As necessidades de energia foram supridas em parte pelas usinas Tombos e Franca Amaral e a companhia de energia de Nova Friburgo, as quais socorreram Macabu, fornecendo eletricidade apenas para reparos na usina.

  
Contudo, as interrupções no fornecimento de energia perduraram até o início da década de setenta, quando foi unificada a ciclagem no país. A região gerava energia de 50 Hz, não podendo, consequentemente, se interligar com outras redes de 60 Hz. Com a unificação, o nosso sistema foi interligado com Furnas (60 Hz, resolvendo assim, o velho problema).


Toda energia consumida em Macaé era gerada pela usina de Glicério integrada à de Macabu, até 1970, quando a usina de Glicério foi desativada e a de Macabu integrada a Furnas (Informações retiradas do livro: Macaé Sintese Geo-Histórica).


Hoje, as usinas de Glicério e Macabu pertencem a Quanta S/A, produzem energia para abastecer milhares de residências e mantém-se como um patrimônio histórico de grande valor para o município.