Referências: Mota, C.E.M.; Geraldes, M.C.; Almeida, J.C.H.; Vargas, T.; Souza, D.M.; Loureiro, R.O. Silva, A.P. 2009. Características Isotópicas (Nd e Sr), Geoquímicas e Petrográficas da Intrusão Alcalina do Morro de São João: Implicações Geodinâmicas e Sobre a Composição do Manto Sublitosférico. Geol. USP Sér. Cient., 9(1):85-100 | Mota, C.E.M. 2013. Petrogênese e geocronologia das intrusões alcalinas de Morro Redondo, Mendanha e Morro de São João: caracterização do magmatismo alcalino do Estado do Rio de Janeiro e implicações geodinâmicas. Tese (Doutorado), Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Geologia da UERJ, 204p. | Sichel, S.E.; Motoki, A.; Iwanuch, W.; Cargas, T.; Aires, J.R.; Melo, D.P.; Motoki, K.F.; Balmant, A.; Rodrigues, J.G. 2012. Cristalização fracionada e assimilação da crosta continental pelos magmas de rochas alcalinas félsicas do estado do Rio de Janeiro. An Inst Geocienc., 35:84-104
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Morro de São João (Rio das Ostras - RJ)
Realizado em 20/11/2014
O Morro de São João se destaca como uma
elevação brusca de aproximadamente 800 m e essa imponência domina a
paisagem local. Pode ser apreciado desde municípios vizinhos e até por
imagem de satélite. Sua exuberante vista chama atenção de turistas que
frequentemente realizam trilhas para contemplá-la. Ele é recoberto por
vegetação típica de Mata Atlântica preservada. O morro, quando visto por
imagem de satélite ou fotografia aérea, revela ao observador uma feição
circular em planta. Em 3D tem a forma de um cone, o que inspira a ideia
de que se trata de um vulcão extinto. Mas não é bem assim! As rochas do
Morro de São João foram formadas por cristalização do magma (rocha
fundida), daí serem classificadas como ígneas ou magmáticas. O
magmatismo é típico de limites de placas tectônicas, mas, também, as
rochas do Morro não se formaram em limites de placas. A formação do
Morro de São João pode ser explicada pela Teoria proposta pelo
meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener no início do século XX
denominada “Tectônica de Placas”, a qual sugere que a superfície
terrestre é constituída por placas que se movimentam em diversas
direções. Ele foi muito criticado por isto. Com o avanço das técnicas e
tecnologia, a Geologia, hoje, pode informar que as placas se movem numa
velocidade de poucos centímetros por ano, podendo se amalgamar em
grandes massas continentais ou se fragmentar em porções menores. A
América do Sul e África se separaram há cerca de 130 milhões de anos.
Mas, há 65 milhões de anos, justamente no final do Cretáceo, quando os
dinossauros se extinguiram, a região que hoje corresponde ao território
do Estado do Rio de Janeiro esteve sobre uma anomalia térmica, uma
grande região muito quente no Manto da Terra. À medida que a placa
sul-americana se movimentava lentamente para oeste, essa anomalia de
calor promovia a fusão das rochas que estavam na sua vizinhança. Este
magma migra, então, em direção à superfície e intrude (invade) as rochas
pré-existentes da região, que neste caso são bem antigas, pois possuem
cerca de 2 bilhões de anos. Enquanto esta anomalia é fixa e a placa se
movimenta, é formado um rastro de rochas ígneas ao longo do caminho
percorrido. Estudiosos indicam que o alinhamento formado de feições
magmáticas se estende desde Poços de Calda (MG) até Cabo Frio (RJ), e um
desses registros é o que hoje conhecemos como o Morro de São João. No
caso do Morro de São João, apesar de seu relevo sugestivo, não é
possível identificar a presença de rochas que indicam a ocorrência de
erupções vulcânicas em superfície. Estas rochas têm texturas muito finas
porque esfriam muito rapidamente e podem até ser formadas por vidro!
Também podem ser compostas de material ejetado dos vulcões, como cinzas e
bombas. Mas, estes tipos de rocha não foram encontrados no Morro. As
rochas do Morro de São João têm textura grossa, onde podem ser
observados os minerais muito claramente, indicando que se cristalizaram
lentamente em profundidade, o que é típico de rochas plutônicas. Plutão,
na mitologia, é o senhor das profundezas. Já Vulcano é o senhor do
fogo, dos vulcões na superfície. Assim, se um dia o Morro de São João
foi um vulcão, os processos de alteração, erosão e transporte, já
retiraram todo este material e o que vemos hoje é parte do corpo
solidificado em profundidade. As rochas ígneas geradas neste episódio
apresentam muito sódio (Na) e potássio (K) nos seus minerais e são
denominadas de rochas alcalinas, por esta química especial. Não são
rochas comuns na superfície da Terra e, portanto, são raridades a serem
estudadas. Também, são pobres em sílica, muito diferentes das rochas
mais comuns da superfície de nosso planeta. A singularidade do processo
geológico que formou o Morro de São João fez com que próximo ao píer do
Rio São João, que margeia o Morro de São João, fosse instalado um painel interpretativo do Projeto Caminhos Geológicos,
que trata justamente desse contexto de formação das rochas. Sugere-se
um passeio turístico de barco ao longo do rio cujo embarque localiza-se
quase ao lado deste painel. Este local é, também, um sítio histórico com
um casario colonial preservado. Neste mesmo local há, ainda, um painel do Projeto Caminhos de Darwin,
já que Charles Darwin passou por Barra de São João em duas ocasiões
(ida e vinda) durante sua excursão pelo estado do Rio de Janeiro em
abril de 1832. Nele está transcrito uma pequena parte do diário do
naturalista britânico: “Passamos por várias aglomerações de mata
densa. Senti-me indisposto, com um pouco de calafrios e enjoo. Cruzei a
barra de São João de canoa, ao lado de nossos cavalos. […] Viajamos até
escurecer”. Ele não citou o Morro de São João, mas isto intriga a
quem lê o diário, afinal este é um marco topográfico admirável para
todos que passam pela região.
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