sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Morro de São João (Rio das Ostras - RJ)

Realizado em 20/11/2014 
 
 
O Morro de São João se destaca como uma elevação brusca de aproximadamente 800 m e essa imponência domina a paisagem local. Pode ser apreciado desde municípios vizinhos e até por imagem de satélite. Sua exuberante vista chama atenção de turistas que frequentemente realizam trilhas para contemplá-la. Ele é recoberto por vegetação típica de Mata Atlântica preservada. O morro, quando visto por imagem de satélite ou fotografia aérea, revela ao observador uma feição circular em planta. Em 3D tem a forma de um cone, o que inspira a ideia de que se trata de um vulcão extinto. Mas não é bem assim! As rochas do Morro de São João foram formadas por cristalização do magma (rocha fundida), daí serem classificadas como ígneas ou magmáticas. O magmatismo é típico de limites de placas tectônicas, mas, também, as rochas do Morro não se formaram em limites de placas. A formação do Morro de São João pode ser explicada pela Teoria proposta pelo meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener no início do século XX denominada “Tectônica de Placas”, a qual sugere que a superfície terrestre é constituída por placas que se movimentam em diversas direções. Ele foi muito criticado por isto. Com o avanço das técnicas e tecnologia, a Geologia, hoje, pode informar que as placas se movem numa velocidade de poucos centímetros por ano, podendo se amalgamar em grandes massas continentais ou se fragmentar em porções menores. A América do Sul e África se separaram há cerca de 130 milhões de anos. Mas, há 65 milhões de anos, justamente no final do Cretáceo, quando os dinossauros se extinguiram, a região que hoje corresponde ao território do Estado do Rio de Janeiro esteve sobre uma anomalia térmica, uma grande região muito quente no Manto da Terra. À medida que a placa sul-americana se movimentava lentamente para oeste, essa anomalia de calor promovia a fusão das rochas que estavam na sua vizinhança. Este magma migra, então, em direção à superfície e intrude (invade) as rochas pré-existentes da região, que neste caso são bem antigas, pois possuem cerca de 2 bilhões de anos. Enquanto esta anomalia é fixa e a placa se movimenta, é formado um rastro de rochas ígneas ao longo do caminho percorrido. Estudiosos indicam que o alinhamento formado de feições magmáticas se estende desde Poços de Calda (MG) até Cabo Frio (RJ), e um desses registros é o que hoje conhecemos como o Morro de São João. No caso do Morro de São João, apesar de seu relevo sugestivo, não é possível identificar a presença de rochas que indicam a ocorrência de erupções vulcânicas em superfície. Estas rochas têm texturas muito finas porque esfriam muito rapidamente e podem até ser formadas por vidro! Também podem ser compostas de material ejetado dos vulcões, como cinzas e bombas. Mas, estes tipos de rocha não foram encontrados no Morro. As rochas do Morro de São João têm textura grossa, onde podem ser observados os minerais muito claramente, indicando que se cristalizaram lentamente em profundidade, o que é típico de rochas plutônicas. Plutão, na mitologia, é o senhor das profundezas. Já Vulcano é o senhor do fogo, dos vulcões na superfície. Assim, se um dia o Morro de São João foi um vulcão, os processos de alteração, erosão e transporte, já retiraram todo este material e o que vemos hoje é parte do corpo solidificado em profundidade. As rochas ígneas geradas neste episódio apresentam muito sódio (Na) e potássio (K) nos seus minerais e são denominadas de rochas alcalinas, por esta química especial. Não são rochas comuns na superfície da Terra e, portanto, são raridades a serem estudadas. Também, são pobres em sílica, muito diferentes das rochas mais comuns da superfície de nosso planeta. A singularidade do processo geológico que formou o Morro de São João fez com que próximo ao píer do Rio São João, que margeia o Morro de São João, fosse instalado um painel interpretativo do Projeto Caminhos Geológicos, que trata justamente desse contexto de formação das rochas. Sugere-se um passeio turístico de barco ao longo do rio cujo embarque localiza-se quase ao lado deste painel. Este local é, também, um sítio histórico com um casario colonial preservado. Neste mesmo local há, ainda, um painel do Projeto Caminhos de Darwin, já que Charles Darwin passou por Barra de São João em duas ocasiões (ida e vinda) durante sua excursão pelo estado do Rio de Janeiro em abril de 1832. Nele está transcrito uma pequena parte do diário do naturalista britânico: “Passamos por várias aglomerações de mata densa. Senti-me indisposto, com um pouco de calafrios e enjoo. Cruzei a barra de São João de canoa, ao lado de nossos cavalos. […] Viajamos até escurecer”. Ele não citou o Morro de São João, mas isto intriga a quem lê o diário, afinal este é um marco topográfico admirável para todos que passam pela região.

Referências: Mota, C.E.M.; Geraldes, M.C.; Almeida, J.C.H.; Vargas, T.; Souza, D.M.; Loureiro, R.O. Silva, A.P. 2009. Características Isotópicas (Nd e Sr), Geoquímicas e Petrográficas da Intrusão Alcalina do Morro de São João: Implicações Geodinâmicas e Sobre a Composição do Manto Sublitosférico. Geol. USP Sér. Cient., 9(1):85-100 | Mota, C.E.M. 2013. Petrogênese e geocronologia das intrusões alcalinas de Morro Redondo, Mendanha e Morro de São João: caracterização do magmatismo alcalino do Estado do Rio de Janeiro e implicações geodinâmicas. Tese (Doutorado), Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Geologia da UERJ, 204p. | Sichel, S.E.; Motoki, A.; Iwanuch, W.; Cargas, T.; Aires, J.R.; Melo, D.P.; Motoki, K.F.; Balmant, A.; Rodrigues, J.G. 2012. Cristalização fracionada e assimilação da crosta continental pelos magmas de rochas alcalinas félsicas do estado do Rio de Janeiro. An Inst Geocienc., 35:84-104